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A palavra sangrada de Civone Medeiros em livro

Lançado pela editora Coleção POETIGUARES, o livro “Escrituras Sangradas” pode ser considerado um divisor de águas. Com suas transgressões e construções certeiras.

Por Michelle Ferret

Com sua inquietude latente ela oferece o café amargo para o leitor distinguir o agridoce de suas ideias. E faz mais… Reúne em si as quatro estações, os loucos, os becos, a realidade e um infinito de delírios. Quase sempre em primeira pessoa, os poemas do livro “Escrituras Sangradas” se dividem em duas partes. “Escrituras Sangradas – Toscas Fatias de Escrevinhaduras”, de 1999, com 65 poemas e o Livro 2 – “Ave de Arribaçã ou a Propósito de Viena e Outros Ondes” com 132 páginas. Ambos lançados na última quinta-feira, 29 de outubro para o mundo, inicialmente em poucas edições, apenas 100.

Ler cada poema é viajar na insensatez absoluta de uma mulher revirada ao avesso. Ela que se auto define “uma velha de mais de trinta e tantos anos/E uma criança de milhões de eras”, consegue imprimir em versos, afora o próprio corpo, a essência da vida. São vísceras expostas de letras embriagadas e outros ondes compondo versos verdadeiros. Inspirada em Hilda Hilst, Frida Kalho e Bispo do Rosário, ela costura suas ideias nos mantos imaginários. E assim se recompõe, reinventando a própria literatura. Talvez sua vida de artista tenha dado todos os ondes desses escritos. Ela que faz intervenções urbanas e humanas ainda consegue escrever em muros seus desejos mais antigos. É assim que Civone se escreve e se despe, vestindo-se de mundo. Da impureza e pureza dele. Como reza o título de seu poema, “A felicidade não me inspira”. Talvez a transpire ou a faça correr léguas. Longe dos parâmetros e dos métodos sociais, ela se desfaz amarras e consegue escrever palavras tão densas quanto o tempo.

“Viscerais Entranhas

De mente e coração

Sem canto neste mundo

Me canto imunda

Sideral

Pólibo sem rumo

Pensante nessa terra

Mal-passada

Revelo-me

Desencanto

Desenovelo-me

Por pântanos e Edens e

raro me encontro

Século vinte passante

Sinto-me sem era e sem surpresas com o devir…

Que venham passadas vidas outras

E m´atentem à incógnita filosofia

Amoral que de mim brota – e que nem tenho ainda!”

(Poema Canto do Livro 2).

São com versos cortantes como este apresentado aqui que os livros ganham ritmo. Um ritmo ora alucinado, ora devagar, parando nos recantos de quem lê. É assim o jeito que Civone encontra para escrever a própria realidade. Como escreveu o também poeta João da Rua, apresentando a poeta no segundo volume. “O texto escrito, sangrado na página, dialoga com a performance, com o corpo solto no texto das ruas, do cotidiano, do beco, do mundo”.

Ela não tem medo de se revelar e já nasceu com o espelho quebrado dentro de si. Atira-se, atina-se e brinca de escrever contos e cartas no meio dos poemas. Como o conto “E…”, quando a saudade é personagem principal. Outro achado interessante na obra são os fragmentos do Livro de Theta, quando encontramos pérolas como “Fixação”:

A retina retilínea

Entorta ventos

E

Brados marítimos

Cruza

Terras e ilhas

E

Te enxerga

Meu ninho

Natal

São com poemas, contos, escrituras sangradas e lavadas em água de chuva o liquido escorrido em Civone. Como ela escreveu em seu epigrama, no poema chamado “Humana Ambição”. “Não quero uma obra que tenha valor de mercado. Quero que tenha valor de expressão”. E assim assina-se embaixo, ao lado, por dentro. São expressões humanas retratadas como quem vive intensamente, como poucos. Sua palavra sangra.

Recado da autora:

“Remix-me, Remake-me, Share-me, Copy-me, Rip-me, Broadcast-me, Mix-me… Feedback-me…”.

Publicado na TN/Viver em 03 de Novembro de 2009 às 00:00.

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Foto » Sandro Fortunato

Os livros estão à venda no Café Salão

Av. Duque de Caxias – Ed. Bila, 110 – Ribeira, Natal/RN.

Tel.: (84) 3212-1655 | contato@cafesalao.com | civonemedeiros@gmail.com

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